Guia de estudos: endometriose

A endometriose é uma condição ginecológica inflamatória que pode impactar seriamente a qualidade de vida das mulheres. Afetando cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade fértil, essa doença é muitas vezes silenciosa, subestimada e diagnosticada tardiamente. Apesar disso, o conhecimento sobre a endometriose vem crescendo nos últimos anos, possibilitando diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais eficazes.

1. O que é endometriose e como ela afeta o corpo feminino

Endometriose é o nome dado à presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero. Em ciclos menstruais normais, esse tecido é eliminado na menstruação. Porém, quando localizado fora do útero, esse tecido não consegue sair do corpo, gerando inflamações, aderências e até cistos, especialmente nos ovários.

Esse crescimento ectópico pode ocorrer nos ovários, trompas, bexiga, intestino, ligamentos uterinos e em casos mais raros, até no diafragma e nos pulmões.

Principais sintomas relatados:

  • Dores menstruais incapacitantes (dismenorreia)

  • Dor durante ou após as relações sexuais (dispareunia)

  • Dores intestinais ou ao evacuar (especialmente durante a menstruação)

  • Dor lombar ou pélvica crônica

  • Cansaço constante, mesmo após noites bem dormidas

  • Infertilidade ou dificuldade para engravidar

  • Alterações urinárias (como dor ao urinar durante a menstruação)

  • Sangramento menstrual intenso ou irregular

É importante entender que a intensidade dos sintomas não determina o grau da doença. Em outras palavras, mulheres com lesões mínimas podem apresentar dor intensa, enquanto outras, com lesões avançadas, podem não sentir nada.

Além disso, a endometriose pode evoluir de forma progressiva. Se não for tratada adequadamente, pode levar a complicações como aderências graves, disfunções intestinais e infertilidade permanente.

2. Como é feito o diagnóstico da endometriose?

O diagnóstico da endometriose é um desafio clínico. Em média, as mulheres levam de 7 a 10 anos para serem diagnosticadas corretamente. Portanto, isso se deve à normalização das dores menstruais, à falta de conhecimento entre profissionais e ao fato de que muitos exames convencionais não detectam a doença.

Etapas principais do diagnóstico:

Avaliação clínica:
Tudo começa com uma anamnese bem conduzida. O médico ginecologista investigará o histórico menstrual, a presença de dor, os impactos na vida sexual e a ocorrência de infertilidade. Questionários específicos ajudam a mapear sintomas comuns.

Exames de imagem especializados:

  • Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal: é um exame essencial. Quando feito por profissionais treinados, permite localizar focos da doença com alta precisão.

  • Ressonância magnética da pelve: oferece uma visão detalhada das estruturas internas e complementa os achados do ultrassom.

  • Laparoscopia: é o padrão-ouro nos casos em que a confirmação da endometriose é necessária. O procedimento permite visualizar diretamente os focos e, se possível, removê-los.

Nos últimos anos, há uma valorização crescente do diagnóstico não invasivo. Isso evita cirurgias desnecessárias, além de permitir o início precoce do tratamento.

Também é importante diferenciar a endometriose de outras condições com sintomas semelhantes, como a síndrome do intestino irritável, miomas uterinos e doença inflamatória pélvica. Por isso, um diagnóstico preciso depende de uma equipe multidisciplinar e da escuta ativa do paciente.

3. Tratamentos atuais e estratégias de cuidado integral

O tratamento da endometriose deve ser personalizado. Portanto, isso significa que a estratégia adotada pode variar dependendo da idade da mulher, do desejo reprodutivo, da gravidade dos sintomas e da extensão da doença.

Tratamento clínico (medicamentoso):

  • Anticoncepcionais hormonais combinados: utilizados continuamente para interromper a menstruação e controlar a dor.

  • Progestagênios: como o Dienogeste, que ajudam a atrofiar o tecido endometrial fora do útero.

  • Análogos do GnRH: bloqueiam a produção hormonal do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, levando a um estado temporário de menopausa. São eficazes, mas apresentam efeitos colaterais importantes.

  • Anti-inflamatórios não hormonais (AINEs): usados para alívio temporário da dor, mas não tratam a causa da doença.

Vale lembrar que o tratamento clínico busca controlar a progressão da doença, aliviar sintomas e preservar a fertilidade, sempre que possível.

Tratamento cirúrgico:

Indica-se a cirurgia por laparoscopia quando os medicamentos não funcionam ou quando há grandes lesões obstrutivas, como cistos nos ovários (endometriomas) ou aderências severas. Contudo, durante o procedimento, removem-se os focos de endometriose, o que proporciona alívio dos sintomas. Ademais, em muitos casos, há melhora da fertilidade.

No entanto, como a endometriose é uma condição crônica, os sintomas podem retornar mesmo após a cirurgia, especialmente se não houver acompanhamento contínuo.

Terapias complementares que auxiliam no controle da dor:

  • Fisioterapia pélvica especializada

  • Acupuntura

  • Yoga terapêutica

  • Terapia nutricional com foco anti-inflamatório

  • Psicoterapia (sobretudo em casos de dor crônica e infertilidade)

Essas abordagens complementam o tratamento médico convencional e ajudam a mulher a retomar o controle sobre sua saúde e qualidade de vida.

Enfrentar a endometriose com informação e apoio

Viver com endometriose pode ser exaustivo. Muitas mulheres passam por ciclos de dor, frustração, desinformação e silêncio. Por isso, oferecer apoio emocional e informações de qualidade é essencial.

Além do tratamento médico, o suporte psicológico e a compreensão da rede de apoio (familiares, amigos e parceiros) fazem toda a diferença.

Por outro lado, é importante destacar que milhares de mulheres levam vidas plenas, produtivas e felizes, mesmo convivendo com a endometriose. Contudo, o conhecimento é, sem dúvida, o primeiro passo para o empoderamento da paciente.

Considerações Finais

Assim concluimos, que endometriose é uma condição real, dolorosa e muitas vezes invisível. Portanto, reconhecer seus sintomas, buscar diagnóstico precoce e adotar uma abordagem terapêutica personalizada são etapas fundamentais para melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas.

Se você suspeita que possa ter a doença, ou conhece alguém que apresenta os sintomas, procure um ginecologista especializado. Não normalize a dor.

Quanto antes a endometriose for detectada, maiores as chances de tratamento eficaz e de recuperação do bem-estar.

Compartilhar publicação

Leia também