A bronquiolite viral aguda (BVA) é uma das principais infecções do trato respiratório inferior em crianças menores de dois anos, sendo a causa mais comum do primeiro episódio de sibilância em lactentes. A relevância do estudo da BVA reside no seu alto impacto na morbidade infantil, especialmente nos meses mais frios do ano, quando a incidência aumenta consideravelmente. Portanto, o manejo adequado dessa condição é essencial para reduzir complicações e evitar hospitalizações desnecessárias.
Etiologia
O principal agente etiológico da bronquiolite viral aguda é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), responsável por mais de 70% dos casos. No entanto, outros vírus também podem estar envolvidos, como influenza, parainfluenza, adenovírus, rinovírus e coronavírus. Entre esses, o adenovírus merece atenção especial, pois pode evoluir para a bronquiolite obliterante, uma complicação grave e de difícil manejo. Além disso, é importante destacar que a infecção pelo VSR não confere imunidade duradoura, permitindo reinfecções ao longo da vida (Smyth & Openshaw, 2006).
Fisiopatologia
A transmissão ocorre principalmente por contato direto com secreções infectadas ou por inalação de gotículas eliminadas por indivíduos contaminados. Após um período de incubação de 4 a 5 dias, o vírus inicialmente infecta as vias aéreas superiores, disseminando-se, em seguida, para os brônquios e bronquíolos. Esse processo inflamatório leva à destruição do epitélio respiratório, edema, aumento da produção de muco e obstrução das vias aéreas, o que, por sua vez, causa aprisionamento aéreo e atelectasia. Como resultado, a troca gasosa torna-se ineficiente, podendo levar à hipoxemia e insuficiência respiratória (Piedimonte & Perez, 2014).
Quadro Clínico
A BVA geralmente se inicia com sintomas gripais leves, como rinorreia, tosse e febre baixa. No entanto, após alguns dias, o quadro pode evoluir para taquipnéia, retrações intercostais, batimento de asa nasal e sibilância bilateral. Os sintomas respiratórios tendem a atingir o pico entre o 3º e 5º dia de doença. Além disso, a gravidade varia de acordo com a idade e a presença de fatores de risco, como prematuridade, cardiopatias congênitas e doenças pulmonares prévias (Ralston et al., 2014).
Sinais de gravidade
- Apneia ou cianose;
- Saturação de oxigênio < 92% em ar ambiente;
- Letargia ou irritabilidade excessiva;
- Desidratação;
- Dificuldade alimentar significativa.
Diagnóstico
O diagnóstico da bronquiolite é essencialmente clínico e baseado na história e no exame físico. Em casos de dúvida diagnóstica ou necessidade de internação, exames complementares podem ser utilizados, tais como:
- Radiografia de tórax: pode demonstrar hiperinsuflação pulmonar e atelectasias;
- Hemograma: geralmente normal ou com discreta linfocitose;
- Gasometria arterial: pode evidenciar hipoxemia e hipercapnia em quadros graves;
- Detecção viral por PCR ou imunofluorescência: útil para vigilância epidemiológica, mas não essencial para o manejo clínico (Florin et al., 2017).
Tratamento
O tratamento da BVA é de suporte e visa garantir a oxigenação e hidratação adequadas. Entretanto, não há evidências robustas que sustentem o uso rotineiro de broncodilatadores, corticoides ou antibióticos, exceto em casos específicos.
Critérios de internação
- Idade < 6 semanas;
- Recusa alimentar e desidratação;
- Saturação de O₂ < 92% em ar ambiente;
- História de apneia;
- Doença pulmonar ou cardíaca pré-existente;
- Sinais de desconforto respiratório grave.
Medidas de suporte
- Oxigenoterapia: indicada se a saturação for inferior a 92%;
- Hidratação: deve ser ajustada conforme a aceitação oral e o estado clínico;
- Ventilação não invasiva (VNI): recomendada em casos moderados a graves para evitar intubação;
- Alimentação fracionada para lactentes com dificuldade alimentar.
Prevenção
A melhor forma de prevenir a bronquiolite viral aguda é reduzir a exposição a fatores de risco, como contato com indivíduos infectados e exposição ao tabaco. Dessa maneira, algumas medidas incluem:
- Higiene rigorosa das mãos;
- Evitar locais fechados e aglomerações durante surtos sazonais;
- Priorizar o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida;
- Imunização com anticorpos monoclonais (Palivizumabe) em grupos de alto risco (American Academy of Pediatrics, 2014).
Conclusão
A bronquiolite viral aguda é uma condição frequente na pediatria e sua abordagem deve ser baseada em suporte clínico adequado. Dessa forma, o reconhecimento precoce dos sinais de gravidade permite um manejo mais seguro, evitando complicações. Além disso, a prevenção por meio de medidas higiênico-sanitárias e imunoprofilaxia nos grupos de risco é fundamental para reduzir a morbidade associada a essa infecção.